O Conto da Aia - Margaret Atwood
- Priscila Prado
- há 18 horas
- 3 min de leitura
29/09/2025 a 03/10/2025
✦ Introdução
Comecei O Conto da Aia como leitura do The Book Club.
Eu já esperava o desconforto — toda distopia provoca aquele aperto no peito, porque sempre existe um fundo de verdade nelas. São histórias que incomodam, que pedem reflexão, que nos empurram para fora do conforto.
Mas aqui o impacto foi diferente.
O livro não mostra apenas uma sociedade já destruída: ele mostra o começo.
O momento em que tudo começa a mudar.
A adaptação.
O silêncio.
As pequenas concessões que vão transformando o absurdo em cotidiano.
Acompanhar esse processo tão de perto torna a leitura pesada, mas ao mesmo tempo eu simplesmente não conseguia parar de ler.
✦ Sobre o Mundo de Gilead
Após crises ambientais e políticas, um grupo extremista religioso toma o poder e instaura a República de Gilead. É uma sociedade teocrática, rígida, onde mulheres não possuem direito ao próprio corpo, ao trabalho, ao dinheiro, à identidade.
Elas são divididas em funções:
Esposas – para manter a fachada familiar
Marthas – para cozinhar e cuidar da casa
Tias – para doutrinar e punir
Aias – para reproduzir
Offred, a narradora, é uma Aia.
Seu nome significa literalmente “do Comandante”.
Ela pertence a alguém.
E o livro é, antes de tudo, sobre essa perda.
✦ Diário de Leitura
Dia 1 — 74 páginas
A narrativa me recebeu com silêncio.
Offred fala como quem sabe que está sendo vigiada — até nos pensamentos.
A hierarquia das mulheres é apresentada como um sistema tão rígido que fica difícil respirar junto com ela.
A roupa vermelha, o olhar controlado, o nome apagado:
tudo pensado para tirar dela a ideia de que ainda é alguém.
Dia 2 — 52 páginas
Hoje as Tias chamaram minha atenção — mulheres ensinando outras mulheres a aceitarem sua própria submissão, usando religião, culpa e castigo.
É perturbador porque ecoa situações reais.
Quando a opressão vem com discurso moral, ela se torna ainda mais difícil de enfrentar.
Dia 3 — 58 páginas
A narrativa vai e volta no tempo.
Offred lembra de seu marido, de sua filha, da vida antes de Gilead.
Percebi que lembrar é o jeito que ela encontra para não desaparecer.
Hoje também conheci Moira. Ela é como símbolo de liberdade.
Dia 4 — 32 páginas
Hoje senti o peso do silêncio social.
Em Gilead, tudo é vigilância: gestos, palavras, olhares.
A pior violência ali não é física — é o apagamento da identidade.
É quando a pessoa começa a duvidar da própria memória.
Dia 5 — 152 páginas (Finalização)
A visita à Casa de Jezebel me deixou sem chão.
É o lugar onde os Comandantes fazem exatamente aquilo que condenam publicamente.
A hipocrisia é a base do sistema — não um detalhe dele.
E então, Moira. Que tanto simbolizava força, fuga, resistência.
Agora cansada. Quase apagada.
Esse foi, para mim, o momento mais marcante.
A constatação da derrota.
A sensação de que lutar já não é mais possível — ou de que lutar custa tudo.
O final não entrega respostas.
Ele deixa uma pergunta:
o que significa resistir?
Talvez resistir seja só continuar existindo.
Mesmo em silêncio.
Mesmo que ninguém veja.
✦ Reflexão Final
O Conto da Aia não é apenas uma distopia sobre opressão feminina — é uma história sobre memória e identidade. Sobre como regimes autoritários não surgem de repente, mas se constroem lentamente, enquanto as pessoas estão cansadas, com medo ou distraídas.
É uma leitura que incomoda, sim. Mas incomoda porque é importante.
Fecho o livro, mas ele continua comigo.
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